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terça-feira, 12 de julho de 2011

O silêncio plumário

"Nunca senti
muito apego pelos
livros... Não há
criação artística
ou literária que
se compare a
uma criação de
galinhas."
             Raduan Nassar
 

    As mãos de parteira Rosa receberam o cecê Raduan em Pindorama (SP), em 1935. Era o sétimo dos dez filhos que tiveram João e Chafika, imigrantes libaneses, criadores de galinhas e perus. Menino, o futuro escritor tinha coleção de pombas e passarinhos. Uma de suas alegrias foi ganhar um casal de galinhas-d'angola do pai. Jovem, criou peixes. Adulto, criou coelhos e montou concorrida exposição de pássaros no Parque da Água Branca (SP). Bacharel em direito e letras, depois de Lavoura Arcaica (1975) e Um Copo de Cólera (1978), e da coletânea de contos Menina a Caminha (1997), retirou-se da cena literária. Salinger, Fonseca e Trevisan foram autores recônditos, arredios, avessos a holofotes, mas Raduan é caso à parte. Optou por estancar radical e completamente o afluxo das palavras. Recolheu-se.
    Há diversas formas de explicar o fenômeno, tendo em conta a tão cantada impossibilidade da literatura, as contradições da escrita, a insustentável delicadeza da obra. O clamor do ninho sob as asas da infância, o retorno ao mundo plausível dos bichos, o encanto da simplicidade no cotidiano funcionário na ordem natural das coisas poderiam figurar entre as razões prevalentes.